A arrogância é como uma parede que construímos ao nosso redor. Ela nos faz acreditar que já sabemos tudo o que precisamos saber, fechando-nos para novas perspectivas e aprendizados. Mas de onde surge essa postura que, vira e mexe tendemos a adotar?
O desenvolvimento infantil nos primeiros anos de vida é um período de crescimento rápido e de mudanças substanciais na maneira como uma criança percebe e interage com o mundo ao seu redor. Jean Piaget, renomado psicólogo suíço, investigou profundamente essas transformações e suas descobertas continuam a influenciar a compreensão moderna sobre o desenvolvimento cognitivo.
Piaget propôs que o desenvolvimento cognitivo ocorre em estágios, sendo cada um caracterizado por diferentes formas de pensar e interagir com o mundo. Nos primeiros anos, as crianças estão tipicamente nos estágios sensório-motor (0 a 2 anos) e pré-operacional (2 a 7 anos). Durante o estágio pré-operacional, uma característica marcante é o egocentrismo cognitivo. As crianças, nesse estágio, têm dificuldade em entender a perspectiva dos outros, uma característica que, ao amadurecer, evolui para uma maior capacidade de considerar e compreender diferentes pontos de vista.
Um dos experimentos mais conhecidos de Piaget é o das "Três Montanhas", que ilustra bem essa transição. Nele, uma criança observa uma maquete de três montanhas e é questionada sobre como a cena pareceria de uma posição diferente, geralmente ocupada por outra pessoa ou boneco. Crianças no estágio pré-operacional frequentemente descrevem a cena apenas do seu ponto de vista, mostrando uma limitação natural em adotar outra perspectiva. À medida que se aproximam dos 6 ou 7 anos, as crianças começam a superar essa limitação, desenvolvendo habilidades para entender como o mundo é visto por outra pessoa. Em outras palavras, a partir dos 6 ou 7 anos, nós começamos a desenvolver um sentido de perspectiva.
O conceito de arrogância nas crianças pode ser visto através dessa lente de egocentrismo, onde a capacidade de compreender perspectivas alheias ainda está em desenvolvimento. Até os 6 anos, o comportamento muitas vezes auto afirmativo pode ser interpretado como uma consequência natural do estágio de desenvolvimento cognitivo delas. Elas estão, de certo modo, testando e estabelecendo seu lugar no mundo ao seu redor, um processo que pode parecer arrogante, mas que é crucial para a formação de identidade e autonomia.
A ideia de que muitas vezes "achamos que sabemos tudo" está intimamente ligada a esse egocentrismo infantil estudado por Jean Piaget. Quando crianças, nossa visão de mundo é naturalmente centrada em nossa própria perspectiva, o que pode se traduzir em uma tendência a supor que nosso entendimento é completo e correto. À medida que crescemos, essa postura pode evoluir para uma forma de arrogância intelectual, onde presumimos ter todas as respostas e, portanto, não vemos a necessidade de fazer perguntas.
A tendência de não fazer perguntas pode ser vista como uma extensão do egocentrismo pré-operacional, onde a habilidade de considerar outras perspectivas ainda está em amadurecimento. Essa relutância pode ser reforçada por um ambiente que valoriza respostas rápidas e corretas, muitas vezes negligenciando o valor do questionamento e da curiosidade. A falta de perguntas pode ser uma defesa subconsciente contra a vulnerabilidade que vem de admitir a ignorância ou a incerteza.
Adotar uma postura de humildade intelectual é fundamental para superar essa barreira. A humildade nos permite reconhecer o que não sabemos e nos abre para a possibilidade de aprendizado contínuo. Essa postura está em contraste direto com a arrogância de acreditar que já temos todas as respostas. Humildade intencional é a porta de entrada para uma mentalidade de crescimento, onde cada interação e experiência se torna uma oportunidade de aprendizagem.
Cultivando uma Mentalidade de Aprendizagem
1. Incentivo ao Questionamento: Desde a infância, é crucial criar ambientes onde o questionamento seja incentivado. Isso ajuda a criar uma cultura onde a curiosidade é valorizada e o erro é visto como parte do processo de aprendizado. Podemos incentivar essa postura tanto em casa, com nossos filhos, como no nosso ambiente de trabalho, com nossos pares e colaboradores.
2. Modelagem de Curiosidade: Pais, educadores e líderes podem modelar a importância de fazer perguntas, mostrando que mesmo adultos e figuras de autoridade não têm todas as respostas.
3. Reconhecimento da Ignorância: Aceitar que não sabemos tudo é um passo vital. Isso não é uma fraqueza, mas uma força que nos permite crescer.
4. Valorização do Processo: Focar no aprendizado como um processo contínuo, em vez de um destino fixo. Isso implica aceitar que nosso conhecimento é sempre incompleto e passível de expansão.
Um compromisso com o aprendizado contínuo não só nos torna mais bem informados, mas também mais empáticos e abertos às perspectivas dos outros, enriquecendo nossas interações e experiências de vida. Os dois exercícios abaixo podem ajudar a reduzir os nossos “níveis de arrogância” e a aumentar as nossas “taxas de humildade intencional”.
Exercício 1: O Espelho da Humildade
Pense em alguém que você admira por sua sabedoria. Agora, imagine essa pessoa dizendo "Eu não sei" ou "Pode me explicar isso?". Como isso afeta sua percepção dela? Geralmente, descobrimos que a verdadeira força está na vulnerabilidade de admitir o que não sabemos.
Exercício 2: "Diálogo Socrático Pessoal"
Objetivo: Cultivar a habilidade de questionar de maneira profunda e reflexiva, inspirado pelo método socrático de diálogo.
Passos para o Exercício:
1. Selecione uma Crença ou Opinião Pessoal:
Escolha uma crença ou opinião que você tem sobre um tema importante para você.
2. Formule Perguntas Essenciais:
Faça a si mesmo perguntas que examinam os fundamentos dessa crença. Exemplos:
Por que eu acredito nisso?
Quais são as evidências que apoiam essa crença?
Existem perspectivas alternativas válidas?
Quais seriam as implicações se essa crença estivesse errada?
3. Registre as Respostas:
Anote suas respostas, refletindo sobre a solidez e possíveis falhas de suas suposições.
4. Revise e Reflita:
Periodicamente, volte a essa lista de perguntas e respostas para ver como seu pensamento evoluiu.
Benefícios:
- Aumenta a autopercepção e a compreensão de suas próprias crenças.
- Incentiva o questionamento saudável e a busca por conhecimento.
- Facilita a abertura a novas ideias e perspectivas.
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"A dúvida é o princípio da sabedoria." - Ariano Suassuna
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